A partir da
escassez dos recursos naturais, somado ao crescimento desordenado da população
mundial e intensidade dos impactos ambientais, surge o conflito da
sustentabilidade dos sistemas econômico e natural, e faz do meio ambiente um
tema literalmente estratégico e urgente.
Durante o período da chamada Revolução Industrial
não havia preocupação com a questão ambiental. Os recursos naturais eram
abundantes, e a poluição não era foco da atenção da sociedade industrial e
intelectual da época.
A partir da escassez dos recursos naturais, somado
ao crescimento desordenado da população mundial e intensidade dos impactos
ambientais, surge o conflito da sustentabilidade dos sistemas econômico e
natural, e faz do meio ambiente um tema literalmente estratégico e urgente. O
homem começa a entender a impossibilidade de transformar as regras da natureza
e a importância da reformulação de suas práticas ambientais.
Os limites:
A humanidade está usando 20% a mais de recursos
naturais do que o planeta é capaz de repor. Com isso, está avançando sobre os
estoques naturais da Terra, comprometendo as gerações atual e futuras segundo o
Relatório Planeta Vivo 2002, elaborado pelo WWF e lançado este ano em Genebra.
De acordo com o relatório, o planeta tem 11,4
bilhões de hectares de terra e espaço marinho produtivos - ou 1,9 hectares de
área produtiva per capita. Mas a humanidade está usando o equivalente a 13,7
bilhões de hectares para produzir os grãos, peixes e crustáceos, carne e
derivados, água e energia que consome. Cada um dos 6 bilhões de habitantes da
Terra, portanto, usa uma área de 2,3 hectares. Essa área é a Pegada Ecológica
de cada um. O fator de maior peso na composição da Pegada Ecológica hoje é a
energia, sobretudo nos países mais desenvolvidos.
A Pegada Ecológica de 2,3 hectares é uma média. Mas
há grandes diferenças entre as nações mais e menos desenvolvidas, como mostra o
Relatório Planeta Vivo, que calculou a Pegada de 146 países com população acima
de um milhão de habitantes. Os dados mais recentes (de 1999) mostram que
enquanto a Pegada média do consumidor da África e da Ásia não chega 1,4
hectares por pessoa, a do consumidor da Europa Ocidental é de cerca de 5,0
hectares e a dos norte-americanos de 9,6 hectares.
Embora a Pegada brasileira seja de 2,3 hectares –
dentro da média mundial, mas cerca de 20% acima da capacidade biológica
produtiva do planeta.
Quando falamos em emissões de poluentes, as
diferenças dos índices emitidos pelos países desenvolvidos e em desenvolvimento
também são significativas: Um cidadão médio norte-americano, por exemplo,
responde pela emissão anual de 20 toneladas anuais de dióxido de carbono; um
britânico, por 9,2 toneladas; um chinês, por 2,5; um brasileiro, por 1,8; já um
ganês ou um nicaragüense, só por 0,2; e um tanzaniano, por 0,1 tonelada anual.
A China e o Leste da Ásia aumentaram em 100% o consumo de combustíveis fósseis
em apenas cinco anos (1990/95). (Wolfgang Sachs, do Wuppertal Institute)
Nos países industrializados cresce cada vez mais o
consumo de recursos naturais provindos dos países em desenvolvimento - a ponto
de aqueles países já responderem por mais de 80% do consumo total no mundo.
Segundo Sachs, 30% dos recursos naturais consumidos na Alemanha vêm de outros
países; no Japão, 50%; nos países Baixos, 70%.
O desafio:
O grande desafio da humanidade é promover o
desenvolvimento sustentável de forma rápida e eficiente.
Este é o paradoxo: sabemos que o tempo está se
esgotando, mas não agimos para mudar completamente as coisas antes que seja
demasiado tarde. Diz-se que uma rã posta na água fervente saltará rapidamente
para fora, mas se a água for aquecida gradualmente, ela não se dará conta do
aumento da temperatura e tranqüilamente se deixará ferver até morrer. Situação
semelhante pode estar ocorrendo conosco em relação à gradual destruição do
ambiente natural. Hoje, grande parte da sociedade se posiciona como mero
espectador dos fatos, esquecendo-se de que somos todos responsáveis pelo futuro
que estamos modelando. Devemos exercer a cidadania planetária, e rapidamente.
A luz no fim do túnel:
A conscientização ambiental de massa, só será
possível com percepção e entendimento do real valor do meio ambiente natural em
nossas vidas. O meio ambiente natural é o fundamento invisível das diferenças
sócio econômicas entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. O dia em que
cada brasileiro entender como esta questão afeta sua vida de forma direta e
irreversível, o meio ambiente não precisará mais de defensores. A sociedade já
terá entendido que preservar o meio ambiente é preservar a própria pele, e
fragilizar o meio ambiente, é fragilizar a economia, o emprego, a saúde, e tudo
mais. Esta falta de entendimento compromete a adequada utilização de nossa
maior vantagem competitiva frente ao mundo: recursos hídricos, matriz energética
limpa e renovável, biodiversidade, a maior floresta do mundo, e tantas outras
vantagens ambientais que nós brasileiros temos e que atrai o olhar do mundo.
Mas, se nada for feito de forma rápida e efetiva,
as próximas gerações serão prejudicadas duplamente, pelos impactos ambientais e
pela falta de visão de nossa geração em não explorar adequadamente a vantagem
competitiva de nossos recursos naturais.
Somos a primeira geração a dispor de ferramentas
para compreender as mudanças causadas pelo homem no ambiente da Terra, mas não
gostaria de ser uma das últimas com a oportunidade de mudar o curso da história
ambiental do planeta.
Autora: Marilena Lino de Almeida Lavorato