Este texto
foi divulgado no LINKEDIN no grupo Banco de Peritos por Sérgio K (Geólogo) e
aborda a questão das enchentes em áreas urbanas. Vale apena ler e entender como funciona um sistema de drenagem de
rios e do dinheiro público.
Antes de considerar uma
drenagem em área urbana, devemos entender que uma área urbana se instala em um
substrato geológico e geomorfológico que por sua vez representam as condições
ambientais naturais da área. Assim, uma planície de inundação, por mais que não
queiram os implantadores de urbanizações, é uma planície de inundação.
Constroem-se canais, retificam-se a drenagem, implantam-se piscinões, porém a
planície continua sendo de inundação. Se ela pré-existe, então, é porque é
necessária para aquele ambiente. Fundos de vales existem para escoar as águas
provenientes de chuvas e de fontes à montante. Quando o volume de água é maior
que o vale pode suportar, há o transbordamento para as planícies de inundação.
Isto é básico.
A urbanização, por sua vez,
estabelece-se em conceitos que invariavelmente diminuem a permeabilidade dos
solos e agravam a velocidade de escoamento das águas pluviais. É simples e natural que maiores volumes de
água que escoam representam riscos de enchentes em áreas mais baixas. É engano
dizer que o risco de enchentes, que está aumentando, é razão do aquecimento
global. A cada ano uma área maior de impermeabilização pelo processo de
urbanização e os volumes de água escoados são, obviamente, maiores pois há
menor infiltração.
O que ocorre de fato é um
verdadeiro colapso dos modelos de urbanização que dominam a construção dita
planejada de cidades onde é “bonito” ver uma rua arborizada, porém com um belo
asfalto e calçadas cimentadas que lindeiram propriedades que no máximo possuem
poucos metros de espaço para um pequeno jardim que em muitos casos representam
pequenas jardineiras.
Charge do blog palpitando sobre as enchentes em São Paulo. Fonte: http://castrohm.blogspot.com/2011/01/enchentes-tragedias-e-os-erros.html
Para solucionar os problemas
de enchentes, obras caríssimas que satisfazem plenamente as construtoras, porém
com resultados apenas paliativos. Os piscinões de São Paulo são exemplos da
criatividade de planejadores urbanos, transformando espaços cada vez maiores em
bueiros cada vez maiores e com os mesmos problemas cada vez maiores de bueiros
comuns. Assoreiam facilmente, são depósitos de lixo não controlado,
desvalorizam a área, cheiram mal e são ocos de proliferação de ratos, baratas,
mosquitos e outros seres nocivos à saúde.
Em uma época onde se prega a
sustentabilidade, soluções desse tipo deveriam ser condenadas como insanas. Mas
não é o que vemos. É comum lermos notícias que o prefeito deste ou daquele
município conseguiu a liberação de verbas para a construção de um piscinão e
que isto irá resolver o problema das enchentes.
Soluções inadequadas como as
que acostumamos ver acontecer, deveriam ser, imediatamente, razão para ações
civis públicas por parte do Ministério Público. Porém, na inauguração dessas
obras é capaz de termos um representante do Ministério Público aplaudindo a
grandeza da obra e a capacidade da engenharia brasileira.
A urbe sustentável certamente
pode até ter seus piscinões, como áreas de recreação, porém nunca bueiros
enormes com nomes ambientalmente corretos.
A urbe sustentável também tem ruas
pavimentadas, porém com sistemas de permeáveis, com manutenção baixa, sem
necessidade de brita e areia para substituir o solo local (que nunca é o
adequado para os pavimentadores, seja em qualquer local que a obra aconteça).
A urbe sustentável tem suas
planícies de inundação, e corpo de técnicos cientes de que soluções que
pretendam modificar esse ambiente natural são soluções ineficazes pois
transferem o problema, intensificam os riscos e criam novos problemas.
Autor: Sergio K.
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