Ela diz o que
devemos fazer para cuidar do mundo: respeitar a natureza, os direitos humanos,
providenciar para que todos tenham o que necessitam para viver e empenhar-se
para viver sempre em paz e harmonia. Defende a idéia de sermos cidadãos do
planeta (GAIA) de nos importarmos com todo e qualquer ser vivo e com o presente
e futuro da Terra. E que todos os povos são irmãos e compartilham a responsabilidade
de preservar e melhorar o mundo em que vivemos.
A Carta da
Terra é uma declaração de princípios e valores fundamentais para a construção
de uma sociedade que seja justa, sustentável e pacifica. Regida a partir dos
contributos de mais de cem mil pessoas de quarenta e seis países, a carta da
terra foi publicada pela Unesco, em Paris, no ano de 2000 e foi aprovada pela
ONUem 2002.
É resultado de
uma década de diálogo intercultural, em torno de objetivos comuns e valores
compartilhados. O projeto da Carta da Terra começou como uma iniciativa das
Nações Unidas, mas se desenvolveu e finalizou como uma iniciativa global da
sociedade civil.
Imagem fonte: http://conviverdemctad.blogspot.com/2011/04/dica-de-video-terra-um-planeta-vivo.html
CARTA DA TERRA – Versão Integral
Preâmbulo
Estamos diante de um momento crítico na história da
Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que
o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo
tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos
reconhecer que no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de
vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum.
Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no
respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e
numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que, nós, os
povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a
grande comunidade da vida, e com as futuras gerações.
Terra, Nosso Lar
A humanidade é parte de um vasto universo em
evolução. A Terra, nosso lar, está viva com uma comunidade de vida única. As
forças da natureza fazem da existência uma aventura exigente e incerta, mas a
Terra providenciou as condições essenciais para a evolução da vida. A
capacidade de recuperação da comunidade da vida e o bem-estar da humanidade
dependem da preservação de uma biosfera saudável com todos seus sistemas
ecológicos, uma rica variedade de plantas e animais, solos férteis, águas puras
e ar limpo. O meio ambiente global com seus recursos finitos é uma preocupação
comum de todas as pessoas. A proteção da vitalidade, diversidade e beleza da
Terra é um dever sagrado.
A Situação Global
Os padrões dominantes de produção e consumo estão
causando devastação ambiental, redução dos recursos e uma massiva extinção de
espécies. Comunidades estão sendo arruinadas. Os benefícios do desenvolvimento
não estão sendo divididos eqüitativamente e o fosso entre ricos e pobres está
aumentando. A injustiça, a pobreza, a ignorância e os conflitos violentos têm
aumentado e é causa de grande sofrimento. O crescimento sem precedentes da
população humana tem sobrecarregado os sistemas ecológico e social. As bases da
segurança global estão ameaçadas. Essas tendências são perigosas, mas não
inevitáveis.
Desafios Para o Futuro
A escolha é nossa: formar uma aliança global para
cuidar da Terra e uns dos outros, ou arriscar a nossa destruição e a da
diversidade da vida. São necessárias mudanças fundamentais dos nossos valores,
instituições e modos de vida. Devemos entender que quando as necessidades
básicas forem atingidas, o desenvolvimento humano é primariamente ser mais,
não, ter mais. Temos o conhecimento e a tecnologia necessários para abastecer a
todos e reduzir nossos impactos ao meio ambiente. O surgimento de uma sociedade
civil global está criando novas oportunidades para construir um mundo
democrático e humano. Nossos desafios, ambientais, econômicos, políticos,
sociais e espirituais estão interligados, e juntos podemos forjar soluções
includentes.
Responsabilidade Universal
Para realizar estas aspirações devemos decidir
viver com um sentido de responsabilidade universal, identificando-nos com toda
a comunidade terrestre bem como com nossa comunidade local. Somos ao mesmo
tempo cidadãos de nações diferentes e de um mundo no qual, a dimensão local e
global estão ligadas. Cada um comparte responsabilidade pelo presente e pelo
futuro, pelo bem estar da família humana e do grande mundo dos seres vivos. O
espírito de solidariedade humana e de parentesco com toda a vida é fortalecido
quando vivemos com reverência o mistério da existência, com gratidão pelo
presente da vida, e com humildade considerando o lugar que ocupa o ser humano
na natureza.
Necessitamos com urgência de uma visão de valores
básicos para proporcionar um fundamento ético à emergente comunidade mundial.
Portanto, juntos na esperança, afirmamos os seguintes princípios, todos
interdependentes, visando um modo de vida sustentável como critério comum,
através dos quais a conduta de todos os indivíduos, organizações, empresas de
negócios, governos, e instituições transnacionais será guiada e avaliada.
PRINCÍPIOS
I. RESPEITAR E CUIDAR DA COMUNIDADE DE VIDA
1. Respeitar a Terra e a vida em toda sua
diversidade.
a. Reconhecer que todos os seres são interligados e
cada forma de vida tem valor, independentemente do uso humano.
b. Afirmar a fé na dignidade inerente de todos os
seres humanos e no potencial intelectual, artístico, ético e espiritual da
humanidade.
2. Cuidar da comunidade da vida com compreensão,
compaixão e amor.
a. Aceitar que com o direito de possuir, administrar
e usar os recursos naturais vem o dever de impedir o dano causado ao meio
ambiente e de proteger o direito das pessoas.
b. Afirmar que, o aumento da liberdade, dos
conhecimentos e do poder comporta responsabilidade na promoção do bem comum.
3. Construir sociedades democráticas que sejam
justas, participativas, sustentáveis e pacíficas.
a. Assegurar que as comunidades em todos níveis
garantam os direitos humanos e as liberdades fundamentais e dar a cada a
oportunidade de realizar seu pleno potencial.
b. Promover a justiça econômica propiciando a todos a
consecução de uma subsistência significativa e segura, que seja ecologicamente
responsável.
4. Garantir a generosidade e a beleza da Terra para
as atuais e as futuras gerações.
a. Reconhecer que a liberdade de ação de cada geração
é condicionada pelas necessidades das gerações futuras.
b. Transmitir às futuras gerações valores, tradições
e instituições que apóiem, a longo termo, a prosperidade das comunidades
humanas e ecológicas da Terra.
Para poder cumprir estes quatro extensos
compromissos, é necessário:
II. INTEGRIDADE ECOLÓGICA
5. Proteger e restaurar a integridade dos sistemas
ecológicos da Terra, com especial preocupação pela diversidade biológica e
pelos processos naturais que sustentam a vida.
a. Adotar planos e regulações de desenvolvimento
sustentável em todos os níveis que façam com que a conservação ambiental e a
reabilitação sejam parte integral de todas as iniciativas de desenvolvimento.
b. Estabelecer e proteger as reservas com uma
natureza viável e da biosfera, incluindo terras selvagens e áreas marinhas,
para proteger os sistemas de sustento à vida da Terra, manter a biodiversidade
e preservar nossa herança natural.
c. Promover a recuperação de espécies e ecossistemas
em perigo.
d. Controlar e erradicar organismos não-nativos ou
modificados geneticamente que causem dano às espécies nativas, ao meio
ambiente, e prevenir a introdução desses organismos daninhos.
e. Manejar o uso de recursos renováveis como a água,
solo, produtos florestais e a vida marinha com maneiras que não excedam as
taxas de regeneração e que protejam a sanidade dos ecossistemas.
f. Manejar a extração e uso de recursos não renováveis
como minerais e combustíveis fósseis de forma que diminua a exaustão e não
cause sério dano ambiental.
6. Prevenir o dano ao ambiente como o melhor método
de proteção ambiental e quando o conhecimento for limitado, tomar o caminho da
prudência.
a. Orientar ações para evitar a possibilidade de
sérios ou irreversíveis danos ambientais mesmo quando a informação científica
seja incompleta ou não conclusiva.
b. Impor o ônus da prova àqueles que afirmam que a
atividade proposta não causará dano significativo e fazer com que os grupos
sejam responsabilizados pelo dano ambiental.
c. Garantir que a decisão a ser tomada se oriente
pelas conseqüências humanas globais, cumulativas, de longo termo, indiretas e
de longa distância.
d. Impedir a poluição de qualquer parte do meio
ambiente e não permitir o aumento de substâncias radioativas, tóxicas ou outras
substâncias perigosas.
e. Evitar que atividades militares causem dano ao
meio ambiente.
7. Adotar padrões de produção, consumo e reprodução
que protejam as capacidades regenerativas da Terra, os direitos humanos e o
bem-estar comunitário.
a. Reduzir, reutilizar e reciclar materiais usados
nos sistemas de produção e consumo e garantir que os resíduos possam ser
assimilados pelos sistemas ecológicos.
b. Atuar com restrição e eficiência no uso de energia
e recorrer cada vez mais aos recursos energéticos renováveis como a energia
solar e do vento.
c. Promover o desenvolvimento, a adoção e a
transferência eqüitativa de tecnologias ambientais saudáveis.
d. Incluir totalmente os custos ambientais e sociais
de bens e serviços no preço de venda e habilitar aos consumidores identificar
produtos que satisfaçam as mais altas normas sociais e ambientais.
e. Garantir acesso universal ao cuidado da saúde que
fomente a saúde reprodutiva e a reprodução responsável.
f. Adotar estilos de vida que acentuem a qualidade de
vida e o suficiente material num mundo finito.
8. Avançar o estudo da sustentabilidade ecológica e
promover a troca aberta e uma ampla aplicação do conhecimento adquirido.
a. Apoiar a cooperação científica e técnica
internacional relacionada à sustentabilidade, com especial atenção às
necessidades das nações em desenvolvimento.
b. Reconhecer e preservar os conhecimentos
tradicionais e a sabedoria espiritual em todas as culturas que contribuem para
a proteção ambiental e o bem-estar humano.
c. Garantir que informações de vital importância para
a saúde humana e para a proteção ambiental, incluindo informação genética,
estejam disponíveis ao domínio público.
III. JUSTIÇA SOCIAL E ECONÔMICA
9. Erradicar a pobreza como um imperativo ético,
social, econômico e ambiental.
a. Garantir o direito à água potável, ao ar puro, à
segurança alimentar, aos solos não contaminados, ao abrigo e saneamento seguro,
distribuindo os recursos nacionais e internacionais requeridos.
b. Prover cada ser humano de educação e recursos para
assegurar uma subsistência sustentável, e dar seguro social [médico] e
segurança coletiva a todos aqueles que não são capazes de manter-se a si
mesmos.
c. Reconhecer ao ignorado, proteger o vulnerável,
servir àqueles que sofrem, e permitir-lhes desenvolver suas capacidades e
alcançar suas aspirações.
10. Garantir que as atividades econômicas e
instituições em todos os níveis promovam o desenvolvimento humano de forma
eqüitativa e sustentável.
a. Promover a distribuição eqüitativa da riqueza
dentro e entre nações.
b. Incrementar os recursos intelectuais, financeiros,
técnicos e sociais das nações em desenvolvimento e aliviar as dívidas
internacionais onerosas.
c. Garantir que todas as transações comerciais apóiem
o uso de recursos sustentáveis, a proteção ambiental e normas laborais
progressistas.
d. Exigir que corporações multinacionais e
organizações financeiras internacionais atuem com transparência em benefício do
bem comum e responsabilizá-las pelas conseqüências de suas atividades.
11. Afirmar a igualdade e a eqüidade de gênero como
pré-requisitos para o desenvolvimento sustentável e assegurar o acesso
universal à educação, ao cuidado da saúde e às oportunidades econômicas.
a. Assegurar os direitos humanos das mulheres e das
meninas e acabar com toda violência contra elas.
b. Promover a participação ativa das mulheres em
todos os aspectos da vida econômica, política, civil, social e cultural como
parceiros plenos e paritários, tomadores de decisão, líderes e beneficiários.
c. Fortalecer as famílias e garantir a segurança e a
criação amorosa de todos os membros da família.
12. Defender, sem discriminação, os direitos de
todas as pessoas a um ambiente natural e social, capaz de assegurar a dignidade
humana, a saúde corporal e o bem-estar espiritual, dando especial atenção aos
direitos dos povos indígenas e minorias.
a. Eliminar a discriminação em todas suas formas,
como as baseadas na raça, cor, gênero, orientação sexual, religião, idioma e
origem nacional, étnica ou social.
b. Afirmar o direito dos povos indígenas à sua
espiritualidade, conhecimentos, terras e recursos, assim como às suas práticas
relacionadas a formas sustentáveis de vida.
c. Honrar e apoiar os jovens das nossas comunidades,
habilitando-os para cumprir seu papel essencial na criação de sociedades sustentáveis.
d. Proteger e restaurar lugares notáveis, de significado
cultural e espiritual.
IV. DEMOCRACIA, NÃO VIOLÊNCIA E PAZ
13. Fortalecer as instituições democráticas em
todos os níveis e proporcionar-lhes transparência e prestação de contas no exercício
do governo, a participação inclusiva na tomada de decisões e no acesso à
justiça.
a. Defender o direito a todas as pessoas de receber
informação clara e oportuna sobre assuntos ambientais e todos os planos de
desenvolvimento e atividades que poderiam afetá-las ou nos quais tivessem
interesse.
b. Apoiar sociedades locais, regionais e globais e
promover a participação significativa de todos os indivíduos e organizações na
toma de decisões.
c. Proteger os direitos à liberdade de opinião, de
expressão, de assembléia pacífica, de associação e de oposição [ou
discordância].
d. Instituir o acesso efetivo e eficiente a
procedimentos administrativos e judiciais independentes, incluindo mediação e
retificação dos danos ambientais e da ameaça de tais danos.
e. Eliminar a corrupção em todas as instituições
públicas e privadas.
f. Fortalecer as comunidades locais, habilitando-as a
cuidar dos seus próprios ambientes e designar responsabilidades ambientais a
nível governamental onde possam ser cumpridas mais efetivamente.
14. Integrar na educação formal e aprendizagem ao
longo da vida, os conhecimentos, valores e habilidades necessárias para um modo
de vida sustentável.
a. Oferecer a todos, especialmente a crianças e a
jovens, oportunidades educativas que possibilite contribuir ativamente para o
desenvolvimento sustentável.
b. Promover a contribuição das artes e humanidades
assim como das ciências na educação sustentável.
c. Intensificar o papel dos meios de comunicação de
massas no sentido de aumentar a conscientização dos desafios ecológicos e
sociais.
d. Reconhecer a importância da educação moral e
espiritual para uma subsistência sustentável.
15. Tratar todos os seres vivos com respeito e
consideração.
a. Impedir crueldades aos animais mantidos em
sociedades humanas e diminuir seus sofrimentos.
b. Proteger animais selvagens de métodos de caça,
armadilhas e pesca que causem sofrimento externo, prolongado o evitável.
16. Promover uma cultura de tolerância, não
violência e paz.
a. Estimular e apoiar o entendimento mútuo, a
solidariedade e a cooperação entre todas as pessoas, dentro das e entre as
nações.
b. Implementar estratégias amplas para prevenir
conflitos violentos e usar a colaboração na resolução de problemas para manejar
e resolver conflitos ambientais e outras disputas.
c. Desmilitarizar os sistemas de segurança nacional até chegar ao nível de uma postura não-provocativa da defesa e converter os recursos militares em propósitos pacíficos, incluindo restauração ecológica.
c. Desmilitarizar os sistemas de segurança nacional até chegar ao nível de uma postura não-provocativa da defesa e converter os recursos militares em propósitos pacíficos, incluindo restauração ecológica.
d. Eliminar armas nucleares, biológicas e tóxicas e
outras armas de destruição em massa.
e. Assegurar que o uso do espaço orbital e cósmico
mantenha a proteção ambiental e a paz.
f. Reconhecer que a paz é a plenitude criada por
relações corretas consigo mesmo, com outras pessoas, outras culturas, outras
vidas, com a Terra e com a totalidade maior da qual somos parte.
O CAMINHO ADIANTE
Como nunca antes na história, o destino comum nos
conclama a buscar um novo começo. Tal renovação é a promessa dos princípios da
Carta da Terra. Para cumprir esta promessa, temos que nos comprometer a adotar
e promover os valores e objetivos da Carta.
Isto requer uma mudança na mente e no coração.
Requer um novo sentido de interdependência global e de responsabilidade
universal. Devemos desenvolver e aplicar com imaginação a visão de um modo de
vida sustentável aos níveis local, nacional, regional e global. Nossa
diversidade cultural é uma herança preciosa, e diferentes culturas encontrarão
suas próprias e distintas formas de realizar esta visão. Devemos aprofundar e
expandir o diálogo global gerado pela Carta da Terra, porque temos muito que
aprender a partir da busca iminente e conjunta por verdade e sabedoria.
A vida muitas vezes envolve tensões entre valores
importantes. Isto pode significar escolhas difíceis. Porém, necessitamos
encontrar caminhos para harmonizar a diversidade com a unidade, o exercício da
liberdade com o bem comum, objetivos de curto prazo com metas de longo prazo.
Todo indivíduo, família, organização e comunidade têm um papel vital a
desempenhar. As artes, as ciências, as religiões, as instituições educativas,
os meios de comunicação, as empresas, as organizações não-governamentais e os
governos são todos chamados a oferecer uma liderança criativa. A parceria entre
governo, sociedade civil e empresas é essencial para uma governabilidade
efetiva.
Para construir uma comunidade global sustentável,
as nações do mundo devem renovar seu compromisso com as Nações Unidas, cumprir
com suas obrigações respeitando os acordos internacionais existentes e apoiar a
implementação dos princípios da Carta da Terra com um instrumento internacional
legalmente unificador quanto ao ambiente e ao desenvolvimento.
Que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de
uma nova reverência face à vida, pelo compromisso firme de alcançar a
sustentabilidade, a intensificação da luta pela justiça e pela paz, e a alegre
celebração da vida.
FONTE:
www.mma.gov.br/estruturas/agenda21/_arquivos/carta_terrawww.cartadaterra.com.br
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