Lixo na
praia de Copacabana, RJ, ao final de um domingo de verão. 30/01/12
Era uma vez três porquinhos…que
se multiplicaram e foram a praia! O título do último artigo de dezembro de 2011
publicado na coluna da jornalista Ruth de Aquino, da revista Época, define bem
nossa relação com o lixo: “Os
porquinhos vão à praia”. A jornalista se mostrava indignada com a situação das
praias do Leblon e Ipanema, bairros da elite do Rio de Janeiro, que no domingo
de Natal amanheceram cobertas de lixo. Os que ali circularam no sábado,
colocavam a culpa numa falha da empresa de limpeza e na tradicional desculpa de
que não havia cestas de lixo suficiente (como se fosse muito trabalho levar
isto num saquinho e depositar em lugar adequado). Seriam mais de 25 toneladas
de lixo deixadas na areia das duas praias cariocas que estão entre as mais badaladas
da cidade maravilhosa, altamente freqüentada por estrangeiros e cantadas em
prosa e verso por compositores e músicos famosos como Vinicius de Morais. É bom
ressaltar que isto não depende de classe social, seja farofeiro ou fankeira,
playboy ou dondoca, o comportamento não difere muito!
Provavelmente na festa da virada
não foi muito diferente, acrescentando aos cocos, copos de plástico e latinhas
de alumínio, também as rolhas e garrafas de champanhe! Segundo o artigo, para
dar conta da limpeza de 56 quilômetros de praias cariocas, são necessários 200
garis que recolhem 70 toneladas de lixo aos sábados e 120 toneladas de lixo aos
domingos durante a alta temporada. A praia com mais lixo é a da Barra da
Tijuca. Em seguida, Copacabana. De acordo com o prefeito do Rio, Eduardo Paes,
os R$ 550 milhões gastos para limpar as ruas, parques, praias, daria para
construir 100 escolas num ano, ou 150 creches, ou 200 clínicas da família.
Não vamos pensar que esta é uma
situação única do Rio, em fato, o cenário se repete em nos mais de 8.000 Km da
costa brasileira. Nas praias do Paraná, cerca de 4 toneladas por dia de lixo
são recolhidas pela equipe de limpeza. É necessária uma equipe de 125 pessoas
entre pessoal administrativo, motoristas e coletores para deixar a areia
branquinha novamente, pronta para receber tudo de novo no dia seguinte!
Acrescente-se a isso o aumento do lixo urbano. Na Operação Verão de 2011 foram
gastos mais de R$10 milhões para recolher o lixo dos sete municípios do nosso
litoral!
O brasileiro trata o espaço
público coletivo como terra de ninguém. Temos uma relação do que não é nosso,
outros devem cuidar. Os mesmos que ficaram indignados com os containeres com
quase 50 toneladas de lixo hospitalar enviados ao Brasil pelos Estados Unidos
(devolvidos agora em janeiro) são aqueles que jogam latinhas de cerveja pela
janela do carro ou que levam seus cãezinhos para passear nas calçadas e não
limpam o que fica no meio do caminho!
Tenho a impressão que quando as
pessoas deviam tomar conta do próprio lixo (quando este não tinha tanto
plástico), queimando-o no quintal, havia mais responsabilidade sobre o mesmo.
Agora é como se fosse um passe de mágica, se coloca na frente de casa e ele
desaparece. Fala-se tanto em educação ambiental, e parece que o discurso não
passa à prática!
Em uma disciplina de gestão
ambiental que ministrava no Curso de Especialização em Embalagem na
Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), onde a maioria eram
designers gráficos ou profissionais da área de publicidade e que trabalhavam a
relação da embalagem somente sobre o foco comercial, resolvi radicalizar. Por
três anos levei as turmas no segundo final de semana de aula para uma visita ao
aterro da Caximba que recebia todo o lixo de Curitiba e agora está fechado.
Reclamavam do cheiro e do desconforto que lhes provocava, mas a mensagem ficava
gravada. Aquela embalagem cara, sofisticada e fabricada com materiais que não
eram biodegradáveis que eles criaram, deixava de servir ao seu propósito em
menos de 10 segundos e agora ali estava misturada a todo tipo de lixo
imaginável, o glamour se foi, ficou a poluição!
Quem sabe não devemos fazer tours
pré-verões à aterros e lixões com os porquinhos que vão as praias todos os anos
para poderem entender onde ficarão seus restos!?
Prof. Eloy
F. Casagrande Jr., PhD Coordenador do Escritório Verde da UTFPR Universidade
Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR
Fonte nossa: http://blogs.mp.mg.gov.br/baciasdeminas/
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